segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SEM GUIA, PRISCILA KRAUSE VENCE

Blog de Jamildo


Uma proeza. É como pode ser considerada a eleição de Priscila Krause (DEM) para a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), neste domingo (5), na segunda tentativa de ocupar o cargo. Desta vez, diferentemente de 2010, tinha contra si o fato de estar fora do guia eleitoral e de não ter apoio no interior. Mesmo assim, a parlamentar conseguiu 48 mil votos e foi eleita pela coligação Frente Popular, já conhecida por puxar vários deputados com o seu poder de angariar votos. Assim, se manteve como figura de destaque no Democratas, partido que já esteve entre os principais e hoje não tem tanta força no Estado.

A aliança da sua legenda com o Partido Socialista Brasileiro foi o que levou Priscila a abdicar do horário eleitoral. Adotando postura fiscalizadora na Câmara Municipal do Recife, a vereadora tem como rotina apontar deficiências na gestão de Geraldo Julio (PSB) no poder executivo da capital e achou que estar no mesmo guia que o partido dele poderia ser uma incoerência. “Entendo a conjuntura politíca no Estado e que o partido precisa fazer essa reorganização, mas é muito difícil para mim”, revelou. “Eu não iria conseguir explicar isso ao eleitor. Preciso que o eleitor tenha certeza dos meus atos, da minha coerência”, justificou.

A democrata conta que chegou a ponderar se seria candidata, mesmo desejando ocupar o cargo após três mandatos como vereadora. Porém, seu nome foi lançado e a legenda decidiu apoiar a sua decisão de não fazer campanha junto com os socialistas, antigos adversários – o presidente do partido em Pernambuco, Mendonça Filho, enfrentou Eduardo Campos (PSB) na eleição ao Governo do Estado em 2006, por exemplo. Sem estrutura e sem apoio no interior, a democrata fez campanha principalmente no Recife. Para tentar contornar os problemas na propaganda, Priscila apostou na internet, com a criação da TV 25222 no Youtube, em que apresentou propostas e também explicou a sua ausência no guia, o vídeo mais assistido do canal, com mais de 600 visualizações, embora os outros não passem de 50 views.

A candidata também levou para a internet o seu pai, o ex-prefeito do Recife e ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause, que considera ter sido o seu primeiro cabo eleitoral, na eleição de 2004, quando disputou e venceu o primeiro mandato para vereadora. “Costumo dizer que o voto (naquele pleito) foi dividido entre os da gratidão (ao pai) e os da aposta (na própria Priscila)”, revela a vereadora. Dez anos depois, o pai disse no vídeo – assistido menos de 30 vezes: “Ao transformar ideias em proposições, em iniciativas concretas, ela contribui para a vida dos pernambucanos fiscalizando efetivamente o bom uso do dinheiro público.”

Antes mesmo de decidir tentar a vida parlamentar, Priscila já era filiada à legenda do pai, o Partido da Frente Liberal (PFL), que, em 2007, trocou de nome para Democratas. A origem da sigla remonta à Arena, partido de sustentação do governo da ditadura militar brasileira, criado com o Ato Institucional 2, que instituiu o bipartidarismo – em oposição estava o Movimento Democrático Brasileiro, atual PMDB. Nas décadas seguintes, o PFL pernambucano teve como grande nome Marco Maciel, vice-presidente nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência da República.

Priscila Krause, de pensamento liberal, vai contra as críticas de que o partido tem diminuído e se diz orgulhosa da legenda. “Hoje tenho um partido pequeno, que desidratou, mas que expulsa quem age de maneira equivocada”, disse, criticando o Partido dos Trabalhadores de forma velada e citando o caso do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, envolvido em esquema de corrupção que saiu do DEM durante um processo de expulsão que a legenda abriu contra ele – mas a sigla voltou a apoiá-lo este ano, quando foi lançado candidato pelo PR ao mesmo cargo.

Até este ano, o DEM não tinha influência direta sobre o poder executivo, mas pelo menos mantinha um nome em cada Casa do legislativo: Priscila Krause como vereadora, Maviael Cavalcanti na Alepe e Mendonça Filho como deputado federal, em Brasília, como deputado federal.

Provavelmente, segundo estratégia do próprio partido, o coeficiente não seria atingido se eles continuassem na oposição histórica, perdendo ainda mais espaço. Quando era PFL, a legenda conseguia eleger boa parte dos parlamentares pernambucanos.

Como deputada, Priscila Krause pretende manter a postura de fiscalizar o poder executivo, além de fazer proposições como a criação de um programa de metas do governo, que instituiria como lei os compromissos assumidos pelos candidatos durante a campanha. Dessa forma, quer continuar as cobranças, agora ao “aliado” Paulo Câmara (PSB), eleito governador também pela Frente Popular, aliança que mudou de vez a cara da oposição em Pernambuco. Até as últimas eleições municipais, cabia ao DEM, PSDB e PMDB a oposição. A partir deste pleito, o papel de contestar será exercido pelo PT e PTB, antes coligados com o PSB.

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